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Deserto, sertão, em si: lugares de encontro com Deus

Perguntaram-me se a música “Deus e eu no sertão” (Victor e Leo), possui conotação religiosa? Já havia escutado a canção muitas vezes, porém agora decidi ouvir para perceber esse aspecto.

Isso me fez e ajudou a retomar algumas ideias sobre minha relação com Deus.

O próprio Victor, autor da canção, a definiu como “uma canção bela, que fala da relação dele e Deus no sertão,ou seja, em perfeita harmonia, sem exageros, apenas uma linda vida simples no mato”.

 A linguagem poética faz bastante uso do sentido conotativo das palavras, num trabalho contínuo de criar ou modificar o significado. Na linguagem cotidiana também é comum  a exploração do sentido conotativo, como consequência da nossa forte carga de afetividade e expressividade.

A música em questão se vale desse recurso da conotação para representar uma experiência do humano que busca o Divino, isso expresso nas imagens de solidão no sertão e na balada serena que conduz a melodia.

Deus e eu no sertão, lembra-me muito o povo de Deus, comunidade de Israel, no Antigo Testamento que, quando queira falar com Deus, saía para o deserto.

Concordo que muitas vezes a arte possui conotação religiosa.  Especificamente no poema e também na melodia desta música, podemos perceber indicações de religiosidade.

Todavia, gosto de pensar que a arte é muito mais que conotação, e que a arte conduz à experiências de fé. Existem músicas que criam um âmbito da realidade e que nos conectam com o transcendental. É o caso desta música que através do deleite artístico conduz o espírito a um estado de paz.

Mas há ainda outro ponto importante: podemos dizer “sim”, que esta música possui conotação religiosa, porém, não podemos afirmar que o seja “de fato”, pois se o fizermos, estaremos aprisionando a arte, então ela ganharia utilidade, então não seria mais arte. “Toda a arte é completamente inútil”. Gosto desta frase de Oscar Wilde, pois me dá certeza de que quando se trata de arte o campo de valor é inventivo ao infinito.

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