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Uma questão de amor

Por Pe. Osni Dos Anjos, Reitor do Santuário São Francisco de Assis

“Mas ele costumava retirar-se a lugares solitários para orar”(Lc 5,16).

A solidão, segundo o dicionário, é um isolamento, a sensação de estar só, solitário, sem ninguém no mundo. Pode haver aqui dois caminhos de interpretação, um que apresenta a solidão como ausência de algo físico, material, e outro, que proporciona reflexão, é uma solidão imaterial, existencial.

Falaremos sobre esse segundo modo de solidão, essa que gera uma angústia real, ou seja, uma angústia positiva que nos coloca diante das escolhas reais, dos “porquês” das coisas, da chave do verdadeiro sentido da vida.

Define-se angústia como o sentimento que temos diante das escolhas, de saber que ao escolhermos um caminho temos que renunciar outro, e sem termos a certeza de que dará certo. Então a essa sensação chamamos angústia.

Para tomar consciência de que esses sentimentos existem é necessário a solidão. Tudo na vida é um processo, um aprendizado, quer dizer, um caminho do interior para o exterior. Victor Frankl, criador da terapia do sentido existencial, da terapia da esperança, desenvolveu um método de tratamento nos porões de holocausto nazista, em meio à dor, ao sofrimento e, principalmente em meio à solidão. A solidão assim como a doença pode ser um ótimo caminho para se tornar uma pessoa melhor. Rejeitar a solidão é o mesmo que rejeitar nosso defeitos e imperfeições. Nos porões do nazismo, Frankl percebeu como é possível resgatar o sentido da viver mesmo em meio à solidão avassaladora de quem perdeu tudo, tudo mesmo.

Heidegger, filósofo do existencialismo, afirmou que a solidão é a condição original do ser humano, ou seja, que cada um de nós é só neste mundo. Que o nascimento é como um lançar do ser humano neste mundo à própria sorte. Parece estranho tudo isso, paradoxal, mas verídico.

Isso tudo pode se converter em beneficio para nosso crescimento. Em meio ao barulho, ao excesso de pessoas e coisas, não conseguimos ouvir nossa voz interior e corremos o grande risco de tomar decisões que tragam muita infelicidade à nossa vida.

Jesus gostava de se retirar para ficar só. Ele é um ótimo exemplo disso que estamos falando. Principalmente nos momentos mais importantes de sua vida, Ele não tinha medo da solidão e desenvolveu uma capacidade de se relacionar com os outros com liberdade. Isso fez Dele um ser humano autêntico. O ser humano autêntico é aquele que responde pela própria vida, é o ator principal, o arquiteto da sua própria obra prima, isto é, da sua vida. E a solidão é um excelente caminho para se alcançar essa autenticidade.

Eu entendo que existe uma solidão boa, positiva, que dá dignidade à pessoa. As relações que temos serão tão boas quanto mais tivermos capacidade de ficarmos sozinhos, apreendermos que um relacionamento saudável exige respeito, e ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem, numa liberdade verdadeira. Assim, o estar juntos, não implica simbiose, porque cada um é único, especial, ímpar, solitário neste mundo. Estar juntos implica compreensão e respeito ao espaço sagrado de cada um.

Penso que todos deveríamos ficar sozinhos em alguns momentos em nossa vida para estabelecermos contato com nosso interior e descobrirmos nossa força pessoal. Isso é uma questão de amor, de amor próprio, de gostar de ficar consigo mesmo. Na solidão entendemos que a paz e harmonia estão no lugar em que quase nunca procuramos, dentro de nós.

Que Deus o abençoe na tua linda jornada de solidão e conhecimento.

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