Rua XV de Novembro faz 50 anos
Há 50 anos, Curitiba abriu um capítulo inédito na história urbana do Brasil como a primeira cidade a transformar uma de suas principais ruas em um calçadão exclusivo para pedestres
Narrativas da época, registradas em notícias e publicações, dão conta de que às vésperas de um fim de semana do mês de maio, ao anoitecer, operários contratados pela Prefeitura, munidos de ferramentas e equipamentos, desembarcaram de caminhões com a missão de transformar o local em um ícone da identidade curitibana.
“Era o dia 19 de maio de 1972, uma sexta-feira. De repente, a Prefeitura fechou a XV de Novembro e começou a construção, em petit-pavê (mármore branco e diabásio preto), com a rosácea do artista Lange de Morretes, da nossa Rua das Flores. O calçadão mais antigo do Brasil está comemorando 50 anos. Feliz memória do prefeito urbanista Jaime Lerner, que teve esta ideia inspirado pelo Ippuc”, celebra o prefeito Rafael Greca.
Inspiração e inovação
Curitiba se reinventa com um legado de projetos e obras que somam cerca de R$ 180 milhões em investimentos, um amplo conjunto de intervenções da gestão Rafael Greca para a priorização do pedestre e da mobilidade limpa por toda a cidade. Nesse contexto, o cinquentenário calçadão da XV continua atual e inspirador.
“Estamos investindo em calçadões acessíveis e humanitários, em espaço de valorização das pessoas que caminham, com prioridade aos pedestres. É a mobilidade ativa, é você descer do carro e andar porque, afinal de contas, a Rua das Flores inspira isso”, ressalta Greca.
O modelo vivo da prioridade aos pedestres, da criação de novas centralidades que aproximam comércio e serviços dos habitantes, do Calçadão da XV, se replica pela cidade. “A nossa Rua das Flores, onde também morou e viveu a minha Margarita (Sansone, primeira-dama), é patrimônio cultural de Curitiba, cenário do nosso Natal, ponto de encontro e de momentos de efervescência política, mas, sobremaneira, é o nosso caminho para ir e vir em direção a uma cidade que respeita os pedestres, ama a vida e quer fazer cada vez mais forte o seu coração curitibano”, frisa o prefeito.
Bondinho
No começo do calçadão, o antigo bondinho elétrico chama a atenção de quem passa pela esquina com a Rua Ébano Pereira. Antes ponto de informações turísticas, hoje é o Bondinho da Leitura, ponto de parada e recreação de gerações de curitibinhas. A charmosa biblioteca conta com cerca de 2.800 livros e fica aberta de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 13h e das 14h às 17h30, e aos sábados, das 10h às 14h. Permite tanto a leitura no local, como o empréstimo de livros mediante um cadastro.
Memórias
O piso de petit-pavê do calçadão é também um cenário de lazer para as crianças curitibanas desde a década de 1970. Quem nunca cruzou a Rua XV e viu curitibinhas ao chão, enfileirados diante de folhas de papel para pintar? As atividades foram ampliadas pela Prefeitura e agora, além da pintura no papel, incluem jogos de tabuleiros gigantes (xadrez, dama, trilha, jogo da velha), brinquedos recreativos (escorregador de plástico, casinha, blocos geométricos), cama elástica, tênis de mesa e brinquedos inclusivos para crianças com deficiência. São realizadas aos sábados, das 9h às 13h.
Conexão
Mais que um calçadão ou uma área de estar, a Rua XV de Novembro fechada ao tráfego de veículos e dedicada aos pedestres se consolidou como um eixo de circulação do sistema de vias interligado à área central, ao Setor Histórico e às diversas plataformas do transporte coletivo que tem praças do entorno como ponto de partida e chegada. Uma integração que fortalece o comércio e os serviços no eixo da XV e nas galerias transversais Lustoza, Minerva, Tijucas e Ritz.
O lugar de convívio e de permanência ao longo do calçadão foi estabelecido a partir do mobiliário urbano. A disposição dos equipamentos também foi pensada para que o pedestre tivesse total valorização. Cada trecho com uma característica, mas respeitada a regra de oferecer espaço mais amplo ao centro para a circulação e outro mais estreito junto às vitrines. Uma organização projetada sem obstrução no percurso para direcionar melhor o fluxo de pedestres.
Pedestre
A ação urbanística inédita de transformação da principal via urbana de Curitiba trouxe mudanças no comportamento e na percepção da população nativa e visitante. Movimenta a economia como um shopping a céu aberto, favorece os contatos interpessoais e a integração do habitante com a cidade. Um conceito e uma prática plenamente atuais no momento em que o mundo clama pelo equilíbrio ambiental, pela redução de emissões, pelo respeito à Terra.
A fidelidade de Curitiba ao seu Plano Diretor, que preconiza a valorização da escala humana, faz do Calçadão da XV um ícone de planejamento que ultrapassa a barreira do tempo e reforça a necessidade de ter o cidadão como o foco das ações públicas e a causa mais importante de uma cidade.