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Além do desgaste gerado pelo quadro doloroso, a identificação da doença não costuma ser fácil - Foto: Pixabay

Uma dor que paralisa: conheça a neuralgia do trigêmeo

Sentir dor é ruim, mas o que você faria se convivesse constantemente com uma das piores dores que alguém pode experimentar?

Assim é a neuralgia do trigêmeo, doença cujas crises podem ser desencadeadas por estímulos simples, como pentear o cabelo, se vestir ou mesmo sentir uma brisa no rosto.

“Trata-se de uma dor súbita e intensa, caracterizada por pontadas, espasmos ou choques na região que começa nos olhos, passa pelo maxilar e termina na altura da mandíbula. Ela dura apenas alguns segundos, mas se repete muitas vezes durante o dia e impossibilita diversas ações na rotina do paciente, inclusive as de alimentação e higiene”, conta o neurocirurgião funcional e doutor pela UNIFESP, Dr. Claudio Corrêa.

Além do desgaste gerado pelo quadro doloroso, a identificação da doença não costuma ser fácil. Isso porque seus índices de aparecimento são baixos, como uma estimativa de quatro casos anuais entre cem mil pessoas, o que leva a sugestões comuns sobre disfunções temporomandibulares ou mesmo nos dentes.

“Antes do diagnóstico, as pessoas quase sempre peregrinam por vários médicos e especialistas diferentes até chegar a um reconhecimento correto do que está acontecendo. Em geral, são anos de sofrimento e impacto importante na qualidade de vida. Na literatura médica, inclusive, há registros de tentativas de suicídio por indivíduos acometidos pela neuralgia”, conta o neurocirurgião.

Diagnóstico da neuralgia do trigêmeo

Embora ainda não se saiba a origem exata da doença, a hipótese mais aceita é a de compressão vásculo-nervosa. Isso significa que sua causa pode estar ligada ao aumento de compressão nas raízes do nervo trigêmeo, encontradas na base do crânio, e o contato de artérias ou veias que se apoiam no nervo.

A dor, na generalidade, acomete apenas um lado da face e de modo especial em três áreas:

1) Área frontal do rosto, que envolve a órbita ocular e parte do nariz

2) Área malar, até a asa do nariz e também parte do lábio superior

3) Área temporal, que compreende o lado do ouvido e segue até mandíbula ou maxilar inferior

As crises corriqueiramente são desencadeadas por estímulos sensoriais, como beber água, escovar os cabelos, dentes, ou sentir frio. Se as características descritas forem identificadas em análise clínica, feita em consultório por neurologista e/ou neurocirurgião funcional, passam a ser solicitados alguns exames complementares.

O tratamento da neuralgia do trigêmeo

A primeira via terapêutica escolhida para tratar a neuralgia do trigêmeo é a medicamentosa, composta em particular pelas classes da carbamazepina e oxcarbazepina. Conhecidas pela recomendação para crises convulsivas, são indicadas pela atuação no sistema supressor da dor neste cenário específico.

Quando as medicações não surtem o efeito desejado, algo comum ao longo do tratamento, ou desencadeiem efeitos adversos que inviabilizam a sua continuidade, alguns procedimentos cirúrgicos podem ser sugeridos.

Entre eles:

⦁ Radiocirurgia estereotáxica

⦁ Descompressão neurovascular

⦁ Radiofrequência 

⦁ Glicerol 

⦁ Compressão com balão

A escolha da técnica irá depender de diversos fatores, como as condições clinicas do paciente e a experiência do neurocirurgião, mas a determinação deve priorizar a que apresenta maiores chances de resultados efetivos e duradouros, bem como menores possibilidades de consequências adversas.

“No estudo e prática de todas elas, considero a técnica de Compressão com Balão do gânglio de Gasser como a mais recomendada pela sua simplicidade, segurança e benefícios definitivos”, relata o médico.

Minimamente invasiva e com duração média de dez minutos de execução, o método é realizado com o paciente levemente sedado, onde é feita a inserção de um fino cateter na face. Em sua extremidade, há um pequeno balão que é inflado ao nível do gânglio trigeminal. “É possível obter a cura em mais de 90% das cirurgias, que pode ser conferida logo após a finalização do procedimento”, destaca o doutor.

E caso ocorra a reincidência do quadro, o que pode acontecer em torno de 5 anos após a intervenção, ela pode ser repetido sem contraindicações.

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