Intolerância, racismo e discriminação: por que valores errados assolam a sociedade brasileira?
Há algo de errado nos valores praticados por parte da sociedade brasileira quando percebemos que o machismo e as agressões nas suas diversas formas contra mulheres, crianças e jovens são aceitos, normalizados e justificados pela população. Quando as pessoas naturalizam o preconceito, a discriminação e a concretização de crimes. Como sociedade, não podemos aceitar este cenário. Precisamos buscar as crenças e os valores comuns.
Claramente, há o problema de se sentir e acreditar ser superior do que o outro ou de saber melhor o que é certo, bom e justo. O burro, o ignorante, o vilão, o mal estão sempre do outro lado. Busca-se impor ao outro o seu ponto de vista e o debate construtivo perdeu o seu lugar. Com isso, vivemos num modelo competitivo caracterizado pela falta do senso de comunidade e de respeito ao próximo. E isso não traz benefício algum para o Brasil, nem para a localidade onde vivemos.
Limites estão sendo ultrapassados. Não é possível que, ao conhecer todas as atrocidades cometidas pelo nazismo, algum brasileiro ainda considere normal promovê-lo. Neste regime, pessoas foram mortas e torturadas, incluindo crianças e bebês. Famílias foram destruídas e ativos foram saqueados e tomados à força. Livros foram queimados. Esta ideologia exalta a raça ariana. Logo, o povo brasileiro, que é miscigenado, não seria aceito, tampouco bem-visto. Por isso, é de total incoerência um brasileiro apoiar tal regime. E vale lembrar que o Brasil lutou na guerra contra os nazistas.
Da mesma forma, não tem como simpatizar com a escravidão, nem com o racismo e nem com a discriminação. Não é defensável tratar um ser humano como objeto ou mercadoria, que pode ser vendido e forçado a realizar trabalhos e ações contra a sua vontade. É triste perceber que a cor de pele de uma pessoa justifica um tratamento diferenciado, inclusive no condomínio onde se mora. E como não se indignar com comentários que associam o Nordeste com burrice e preguiça, um lugar que serve apenas para passar férias? E, ironicamente, esta mesma pessoa vai torcer na Copa por jogadores nordestinos, vai consumir produtos fabricados por empresas ou utilizar um app desenvolvido nesta região.
Na mesma linha, não podemos considerar aceitável abusos e exploração sexual de menores em razão da pobreza, da fome ou pelo fato de a criança ser indígena e não de uma classe social abastada dos grandes centros. Continua sendo uma criança, uma vítima. Não podemos ignorar a importância de ensinar a criança a se proteger da violência e de abusos, inclusive os sexuais. Criança não namora! Além disso, as cenas de agressões físicas contra crianças continuam a aparecer no noticiário, cometidos por pais ou seus pares, aqueles que deveriam protegê-las. E por que, como sociedade, ainda falhamos com elas?
A disputa política contaminou o ambiente escolar, de modo que apontar o dedo ao colega acusando de ser de esquerda ou direita virou motivo para perseguições, discriminações e agressões. E isso inclui o ensino infantil e os primeiros anos do fundamental, sendo que criança não vota! E no caso dos adolescentes, certamente falhamos com eles quando não orientamos que injúria, injúria racial e apologia ao nazismo são crimes, inclusive no mundo virtual. Falhamos com os estudantes quando não asseguramos que a escola seja um lugar seguro, sem o risco de bullying ou de levar um tiro.
Precisamos ensiná-los o caminho do diálogo, da reflexão e da convivência harmônica e, principalmente, segregá-los dos vícios e das negatividades próprios do mundo adulto, e permitir as condições necessárias no ambiente escolar para que o aprendizado de fato aconteça. É fundamental a parceria genuína dos pais com os professores e toda a equipe pedagógica. E as ações devem ser contempladas no Programa de Integridade da organização.
Não podemos aceitar a intolerância, nem a violência. Não há justiça com o cometimento de crimes. Precisamos defender a ética como ponto comum, o diálogo e a busca de soluções. É urgente promover a educação, o senso de coletividade e proteger as crianças e adolescentes de qualquer tipo de agressão promovida por adultos. A ética não é seletiva, tampouco por conveniência, e deve se fazer presente sempre.
Por Jefferson Kiyohara,especialista gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados