O Jornal que fala por você

Em tudo sê inteiro

     Já há algum tempo tenho refletido sobre um conceito que tem ganhado espaço nas discussões acerca da busca do ser humano pela felicidade, o conceito de “inteireza”, isto é, em outras palavras, a graça de viver por inteiro, jamais pela metade.

     Talvez você, caro leitor, ainda não teve a oportunidade de conhecer esta palavra, ou quem sabe, sequer ouviu falar dela. É por isso que gostaria de expor o que tenho estudado e pensado sobre esse termo que, longe de almejar compor um tratado, apenas desejo trazer à luz algumas ideias que podem nos ajudar a viver melhor e em plenitude.

  Um dos grandes males do nosso tempo, porque não o chamar de tragédia contemporânea, é a fragmentação da vida. Explico: uma pessoa que está com a mente ferida, com as emoções confusas, busca o psicólogo que escutará sua parte psíquica; uma pessoa irá ao sacerdote para procurar ser ouvida em suas lutas espirituais; e, ainda outra pessoa, sofrendo de dores no corpo, buscará um médico para tratar de suas dores físicas. Afinal, quando e onde seremos escutados e tratados como um todo? Quando poderemos ser considerados “pessoa” na sua inteireza e totalidade?

    Essa fragmentação do ser humano faz-nos viver sem intensidade a vida. Note que muitas vezes estamos num lugar fisicamente, porém com a mente muito, muito distante dali. Nosso corpo está ali, mas nossa mente não. Como ser feliz desse modo? Realisticamente isso é impossível. Imagine um casamento no qual um dos cônjuges está presente de corpo, não de alma, uma verdadeira tragédia. Ou numa missa, na qual estamos presentes fisicamente, mas nossa mente se encontra distante daquele espaço. O que seria tudo isso? Falta de inteireza.

     Ser inteiro naquilo que estamos realizando é um treino diário, custoso, exigente, mas que se levado a sério, traz benefícios extraordinários para vida, tornando-a plena, gratificante e integral. O mundo contemporâneo nos fragmenta e raramente encontramos um lugar que nos trate por inteiro. Contudo, mesmo o mundo sendo assim, tão dividido em pequenos departamentos, podemos fazer uma opção, a de lutarmos por nossa integral existência.

     Por isso podemos dizer que viver por inteiro, jamais pela metade, é uma graça, uma benção, que não está distante de você, mas ao alcance de suas decisões. Ser inteiro é ficar com o outro nas suas dores e alegrias, participar de sua vida, chorar com ele, rir com ele, vibrar com suas vitórias. Ser inteiro é estar conosco mesmos, gostar de si, amar-se, perdoar-se, não querer ser outra pessoa, mas ser a gente mesmo, sempre e em tudo.

    Recordo-me agora do Santo Evangelho, do modo como Jesus viveu seus dias de anúncio do Reino: sempre inteiro, atento aos detalhes. Sequer alguém passou despercebido por Ele. Até mesmo aquela mulher na multidão que apenas tocou suas vestes, nem mesmo ela passou despercebida por Jesus. Ele conseguiu perceber a forca que Dele saiu, pois estava inteiro no que realizava, e isso é lindo, pois quando inteiros, conseguimos nos concentrar, sentir, perceber, interagir e acertar. Observemos como Jesus é correto e o fruto de sua inteireza.

    Nós podemos também ser assim. Estamos às portas do início de um novo ano e podemos reorganizar nossa vida, refazer nossos projetos, recomeçar com aqueles com quem durante o ano velho, decepcionamos por não estamos inteiros com eles. Dá tempo ainda, sempre há tempo.

     Que você possa viver em plenitude os bons desejos do seu coração e sem se esquecer, é claro, que só depende de você.

      Deus te abençoe.

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