Chef Ale Gonçalves é proprietário dos restaurantes O Fornari e da Pistache Pizza e Gastronomia. Formado em Gastronomia pela Universidade Positivo e pós graduando em Docência de Gastronomia no Ensino Superior e comanda um canal no Youtube

Outro dia dando uma aula on line, sim por que em pleno Julho de 2020 esta é a única forma de ministrar qualquer tipo de curso, até que estou gostando. Pois bem, estava eu em plena “sala” virtual de gastronomia e uma aluna relatou algo muito interessante que eu gostaria de compartilhar com vocês por ser um assunto e um ponto de vista que defendo há muito tempo de que a comida boa deve ser difundida para todos.

A referida aluna nos contou que estava muito satisfeita com as aulas e que o conhecimento ao qual ela estava tendo contato estava transformando a sua vida e de seus familiares e amigos, ela contou que certo dia fez um jantar bem simples para sua família e um casal de amigos e um filho, eu havia ensinado uma receita super simples de uma salada muito apreciada na Italia que é a “insalata di Prosciutto e meloni” que normalmente é servida com radicchio e redução de aceto balsâmico, logo que ela serviu a salada o filho do casal convidado, perguntou para sua mãe, “mãe o que é isso?”, e a mãe respondeu de pronto, “Ahh filho, come que deve ser bom por que é comida de rico que a fulana está aprendendo no curso dela de gastronomia”. Vejam como são estas coisas, é claro que até tem um certo ar de sofisticação em uma salada na qual o ingrediente principal é o presunto de parma, este não é um produto digamos barato, mas nos dias de hoje já é possível comprar com preços até que razoáveis e por isso não deveríamos nos privar destes pequenos prazeres glutões, mas por muitas vezes ou por falta de conhecimento ou por definição de prioridades acabamos não nos dando tais prazeres da comida.

A aluna ainda continuou agradecendo, que segundo ela o curso estava propiciando a ela dar ao filho algo que ela não teve na infância por que sua mãe sempre falava que certas comidas eram somente para ricos e eles que eram pobres não teriam acesso ao deleites reservados somente para os mais abastados. Eu lhes digo; Besteira!!!! Nós que amamos a gastronomia, temos que nos rebelar no bom sentido claro e fomentar, divulgar, gritar para todo o mundo ouvir que comida boa não precisa ser cara, e mesmo que seja vale à pena provar uma vez na vida. É uma experiência que todos deveriam ter, sem exceção. Ora! Que história é essa de comida de rico, isso tem que acabar, e está em nossas mãos, gastrônomos e entusiastas mudar este cenário.

Guarde um dinheirinho, se você puder claro e compre uma fruta diferente, um embutido diferente do habitual, presunto, peito de peru e mortadela, e olha que eu amo mortadela hein, mas é preciso provar novos sabores, ofereça novos sabores aos seus próximos, busque receitas diferentes do comum, prove uma comida tailandesa, australiana, grega, africana enfim… Prove, prove, prove e faça outras pessoas provar também, convide alguém para comer algo diferente, se quiser uma receita boa, me mande um email, uma mensagem ou até mesmo um oi lá no instagram, terei um imenso prazer em lhe fornecer.

Insisto, somente nós podemos mudar este cenário, e olha que interessante, quanto mais aumentar o consumo deste itens tidos como de rico, mais baratos ficarão e assim mais pessoas terão acesso e também poderão experimentar ou preparar para seus próximos, e estes próximos a outros próximos e assim a gente muda o mundo, tá bom posso estar indo longe demais com minha epifania, mas que seria ótimo ter melhores produtos nas prateleiras dos supermercados e com preços menores isso seria.

Fica aqui o meu manifesto à boa gastronomia para todos, lutemos por ela com todas as nossa forças, aqui dei um exemplo de presunto de parma, mas pode levantar a bandeira de outros insumos também, pensemos em cogumelos, carnes diferentes, peixes, frutos do mar, frutas, verduras, hortaliças e muitos outros, nosso país é riquíssimo em produtos, precisamos prová-los, descobrir novas formas de comê-los, de prepara-los e de demonstrá-los para quem sabe nunca mais tenhamos uma criança que seja tolhida em sua infância de comer uma “comida de rico”