A reinvenção da Gastronomia, de novo!
Chef Ale Gonçalves é proprietário dos restaurantes O Fornari e da Pistache Pizza e Gastronomia. Formado em Gastronomia pela Universidade Positivo e pós graduando em Docência de Gastronomia no Ensino Superior e comanda um canal no Youtube
Para alguns historiadores a Gastronomia ou culinária teve seu marco inicial quando o homem descobre que ao colocar parte de um animal ou vegetal sobre o fogo surge um sabor diferente daquele ao qual estava acostumado quando os comia crus, pois bem, desde então o desenvolvimento da culinária anda em paralelo com a evolução do ser humano como sociedade, tivemos muitas mudanças então.
Não vou aqui ficar me atentando a explicar por todas reviravoltas culinárias tivemos com o passar do tempo, mas sim tentar demonstrar que talvez a mudança que está por vir seja a mais significativa dos últimos anos, pois todos nós sermos envolvidos em algum momento. Como disse no começo, a primeira grande revolução foi a utilização do fogo para cozinhar os alimentos, depois descobrimos as especiarias, iniciamos então a nos reunir em pequenas comunidades para comermos em torno da fogueira, em um determinado momento decidimos que não iríamos mais ficar perambulando por aí e decidimos fincar assentamento parando assim de sermos nômades, aqui vivemos outra revolução, pois desde este momento poderíamos construir locais específicos e fixos para o preparo das refeições. Aprendemos a plantar, aprendemos a pecuária e assim fomos nos desenvolvendo como sociedade e também a gastronomia evolui, em um determinado momento aprendemos a utilizar talheres e louças, começamos as grandes navegações o que trouxe novidades por onde os mercadores passavam.
A gastronomia vem desde então se reinventado, se transformando, grandes cozinheiros se tornam profissionais, a indústria da culinária se torna mais forte, a hotelaria entra na brincadeira, a tal da hospedagem ganha força e a arte de servir começam a cobrar o preço que valem, grandes chefs começam a transformar seus pratos em documentos, a gastronomia se torna ciência, os primeiros jornalistas começam a escrever suas críticas sobre este ou aquele local, os profissionais são cada vez mais cobrados à perfeição. Em um determinado momento os grandes banquetes se tornam moda, depois passam a ser demodês, a não estarem mais na moda, inventamos o momento em que o cozinheiro sai de trás das cortinas e vem para o salão, para explicar suas criações e invencionices de suas mentes privilegiadas, há a aceitação total por parte do grande público a respeito desta nova forma de servir, chamamos este momento de Nouvelle cuisine.
Depois a outra grande revolução foi o momento de transformar a comida, ao invés de servir pratos grandes, entradas, pratos principais e sobremesas, tem-se início a arte dos jantares de menus degustação, onde o cliente se empanturra de pequenas porções durante um longo período de tempo dentro dos restaurantes, daí veio a cozinha molecular que transformou tudo novamente, comíamos macarrão sem ser feito de ovos e trigo, mas sim de qualquer outro elemento estudado e transformado para que nos parecesse algo familiar e quando comíamos, uauuu! Depois veio a onda da comida confortável, a volta à cozinha da vovó. Daí quando achamos que tudo estava caminhando bem, vem um vírus e nos faz repensar nosso modo de consumir gastronomia, ou seja mais uma revolução e desta vez pelo que parece é pela dor, bares terão que se transformar em Gastrobares, o Chicão da chapa vai ter que estudar mais para preparar um hambúrguer igual a uma hamburgueria chic da cidade, os garçons que antes eram muitas vezes displicentes terão que também que se reinventar, o dono do estabelecimento vai ter que fazer mais contas, vai ter que esbanjar menos, terá que ser de uma vez por todas, profissional. E o cliente por sua vez também, este já está se reinventando, já está saindo menos, já está mais comedido com os gastos e ainda por cima quer o melhor e mais barato, não cabem mais enganações e artimanhas outrora aceitas de uma forma mais amigável.
Não senhoras e senhores não cabe mais o “fazer nas coxas”, agora a “porra toda ficou séria” e a tendência é piorar ou melhorar. E nós, mais uma vez, vamos nos readaptando, afinal de contas é o que fazemos de melhor.