Manas à obra: elas mostram que construção também é papo de mulher
Grupo feminino cria tecnologia social para promover ensino técnico às mulheres interessadas em por a mão na massa e reformar suas próprias casas
A imponência feminina reina nos lares – em sua maioria – são as mulheres que cuidam da casa, limpeza, em preparar as refeições, cuidar dos filhos, e ainda trabalhar fora… E se além de tudo isso, elas também comandassem as obras e reformas de seus espaços? É com esta proposta que a Arquitetura na Periferia, do Instituto de Assessoria a Mulheres e Inovação – IAMÍ, de Belo Horizonte (MG) foi uma das finalistas na categoria Cidades Sustentáveis e/ou Inovação Digital do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2019. A iniciativa conquistou o 2º lugar e recebeu R$ 30 mil pela metodologia, além de certificação de Tecnologia Social.
“É o reconhecimento social, ficamos satisfeitas em entender que nosso método é uma tecnologia que pode ser reaplicada. Além de tudo, a certificação é importante, pois ela transmite confiabilidade em nosso trabalho e nos possibilita investir em parcerias, editais e novos projetos. E o incentivo financeiro ajudou a construir nos primeiros meses de 2020, auxiliou a manter atividades administrativas e nos organizar para dar continuidade ao projeto”, conta Mari Borel, arquiteta da iniciativa Arquitetura na Periferia.
O projeto Arquitetura na Periferia reúne e capacita mulheres para independência do instalar, reformar e construir a sua própria casa. O grupo atua no oferecimento de assessoria técnica a grupos de mulheres da periferia por meio de um processo em que elas são apresentadas às práticas e técnicas de projeto e planejamento de obras, e recebem um microfinanciamento para que conduzam com autonomia e sem desperdícios as reformas de suas casas.
Fazendo a diferença na vida de mulheres desde 2014, a metodologia atendeu 61 mulheres, e teve 300 pessoas impactadas diretamente. A iniciativa de promover a melhoria da própria casa transforma também a autoestima das mulheres. “A grande maioria delas demonstra inicialmente certa dependência da figura masculina para consertar um vazamento ou mudar uma pia de lugar. São reparos pequenos, mas que têm importância no dia a dia. E quando elas entendem que são capazes de fazer esses trabalhos, nos relatam que a melhoria vai além da moradia, se tornam mais autoconfiantes. São transformações sociais, elas ficam mais fortalecidas”, explica Mari.
Todo o processo de planejamento das obras funciona como um grande aprendizado. As mulheres aprendem a medir, desenhar, planejar e executar alguns serviços de construção. Todas as atividades são realizadas em grupo e todas as decisões são tomadas de forma cooperativa. Assim, as participantes se tornam não somente beneficiárias, mas protagonistas do projeto.
Como surgiu
Em 2013, durante a pesquisa para o mestrado, a arquiteta Carina Guedes expandiu seu olhar e se entregou para desenvolver uma metodologia voltada a uma grande parcela da população que autoproduz suas casas sem assessoria e formação técnica, resultando em moradias com recursos escassos que são desperdiçados. Neste cenário, a tomada de decisões quanto à produção do espaço é incumbida ao homem, restando – na maioria das vezes – às mulheres a tarefa de manutenção dos afazeres domésticos.
Plataforma online
Para manter o projeto em funcionamento, e assim, poder alcançar mais famílias, foi lançada uma campanha para que interessados em contribuir com o projeto possam se tornar apoiadores mensais. A partir de R$ 12 é possível apadrinhar o Arquitetura na Periferia. Saiba mais aqui: https://www.catarse.me/arquiteturanaperiferia
Enchentes
Os resultados das fortes chuvas que causaram enchentes em Minas Gerais chamaram atenção do Arquitetura na Periferia. A iniciativa fez uma visita técnica às casas mais atingidas na ocupação Paulo Freire no Barreiro, em Belo Horizonte, para verificar possibilidades de medidas paliativas e minimizar danos. Por meio de doações arrecadaram verba para a compra dos materiais necessários, as instalações e obras ficaram a cargo das moradoras das casas afetadas.
10º Prêmio da Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social
A premiação de 2019 teve parceria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Instituto C&A, Ativos S/A e BB Tecnologia e Serviços, além da cooperação da Unesco no Brasil e apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ministério da Cidadania e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Assista ao vídeo da tecnologia social Arquitetura na Periferia
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