Quaresma de pequenos gestos
Por Pe. Osni dos Anjos
Sentir-se envolvido com tudo o que acontece em nossa volta é uma excelente atitude para construir uma vida saudável e feliz. Paira entre nós uma certa indiferença diante daquilo que nos cerca. Dizemos que isso é falta de envolvimento e daí decorre a conclusão de que tal sentimento “amorfo” tem sido a causa de tantas vidas tristes, vividas pela metade.
Há muitos por aí que teriam tudo para serem felizes, e por que não são? Porque criaram uma imunidade, uma barreira, um bloqueio e não se envolvem mais. Quer dizer, envolver-se emocionalmente, de coração, ou como se diria popularmente “de corpo e alma”.
Desejo partilhar aqui três caminhos para recuperar a alegria de viver: o envolver-se com a fé; envolver-se com a saúde física e emocional; e o envolver-se com o outro, minha família, meus amigos, meus irmãos.
Penso, antes de discorrer sobre esses três tópicos, seria importante dizer que a tristeza é o veneno da alma. A alegria deveria ser expansiva, e dor concentrada. Quando sofremos, nos tornamos patéticos, ou seja, gritamos ao mundo, quando por sua vez deveríamos nos concentrar e meditar sobre nossa angústia para poder colher os seus frutos. Existem frutos no sofrimento? Com certeza existem, o problema é que não sabemos aproveitá-lo, buscamos exaustivamente nos livrar dele, gastamos nossa energia negando-o e, ao final, somos vencidos, e ai já é tarde demais, perdemos tempo, sofremos, nada aprendemos.
Primeiramente te convido a envolver-se com o que diz respeito à vivência da fé. Independentemente do modo e onde você viva sua fé, mas proponho um envolvimento profundo. Para se viver a plenitude da fé é preciso compromisso sério com Deus e com uma comunidade. Não se pode viver a fé sozinho, ela é uma experiência da comunidade reunida em nome de Jesus: “onde dois ou três estiverem reunidos, estarei ali entre eles…” Por que Tomé não viu Jesus? Porque não estava com eles quando Jesus veio, ou seja, Tomé não estava na comunidade, estava fora, não estava envolvido. Desse modo, percebemos que a fé não é um adereço ou algo decorativo, a fé está na essência de nossa identidade de filhos de Deus e exige envolvimento.
Depois, para viver feliz é necessário evolver-se com nosso corpo e nossas emoções, isto é, prestar atenção nos sinais do corpo e nos sinais que nossas emoções nos indicam como alertas de que algo não está bem. Por vezes não damos atenção ao que sentimos, isso não é bom, porque sem ouvirmos nossas necessidades próprias e sem darmos a elas um verdadeiro sentido, também não saberemos ouvir o que o outro precisa. Nosso corpo e nossas emoções dialogam conosco e às vezes pedem socorro, faz-se urgente aprender ouvir.
E ainda, a caminhada rumo ao outro, aprendendo a envolver-se com o outro, comprometer-se com ele, confrontar, acolher, perdoar, dar uma chance, sentir com ele.
Nossas infelicidades têm raiz profunda na falta de compromisso com as alegrias e os sofrimentos de nosso próximo. Mas daquele próximo que é mais próximo de nós, esses que moram dentro de nossa casa, conosco, com quem fazemos as refeições, com quem moramos, com quem passamos a maior parte do nosso tempo, no entanto, mesmo assim, parecemos tão estranhos uns aos outros. De fato, não existe possibilidade de felicidade se sentimos como estranhos os que nos cercam.
Que você possa reencontrar a alegria de viver. Há muito que fazer à frente, creia, busque, resgate, abandone, retome, seja qual for sua decisão e escolha, o mais importante é optar por envolver-se, retomar seu lugar, encontrar-se, antes que seja tarde demais.