Palavras convencem, testemunhos arrastam
Por Pe. Osni Dos Anjos, Reitor do Santuário São Francisco de Assis
Quando lemos o Evangelho nos ocorre perguntar: Será que Jesus é ingênuo? Será que não compreende que vivemos num mundo em que temos de nos esforçar para satisfazer as nossas necessidades essenciais? Certo dia, disse aos seus discípulos: “Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10,3). Só por essa afirmação vemos que Jesus é muito sábio, não ingênuo.
Neste texto, Ele reconhece que a humanidade tem necessidades e recorda que Deus sabe bem de que é que os seus filhos precisam. Então, por que razão Ele diz aos seus discípulos de modo tão imperativo: “Não vos inquieteis”?
Num mundo fascinado pela segurança e pelo conforto, o Evangelho coloca a todos uma pergunta fundamental: em que deposito eu a minha confiança? O que é para mim mais importante?
Jesus diz aos seus discípulos que onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração. O coração, na Bíblia, é o centro da pessoa humana. É o local onde tudo se encontra: a inteligência, a vontade, a nossa capacidade de decidir e os nossos desejos mais profundos. O coração pode facilmente afeiçoar-se ao seu tesouro. É por isso que é extremamente importante aprender a escolher bem e a criar raízes naquilo que é verdadeiramente importante.
Para Jesus, o tesouro é o Reino. Falar do Reino de Deus é falar do próprio Deus. Procurar o Reino é uma outra maneira de dizer que apenas Deus pode dar uma segurança e um significado verdadeiros às nossas existências.
O discípulo é aquele que quer viver de uma maneira radical e nova, na confiança de que Deus, chamado por duas vezes de “Pai” no contexto citado, sabe aquilo de que ele precisa. Quando os nossos corações compreenderem isso então as coisas de que precisamos para viver deixam de ser a fonte da nossa vida ou a chave da nossa felicidade. Tudo encontra o seu verdadeiro lugar. As pessoas do “mundo”, como Jesus os chama, depositam o seu coração numa má escolha, por isso vivem inquietos.
Quando escolhemos os valores do Reino, as necessidades pessoais deixam de ser o ponto em torno do qual centramos a vida e começamos a viver também para os outros. Passamos de uma existência centrada sobre si própria para uma vida de partilha. Foi assim que viveram as primeiras comunidades cristãs de Atos dos Apóstolos: conscientes de que precisamos uns dos outros.
Talvez muitos tenham começado a acreditar que o Evangelho era mesmo uma Boa Nova quando viram que, para os discípulos de Cristo, ele não era apenas um conjunto de palavras vazias, mas uma pessoa que convence pelas atitudes.