O princípio para felicidade
Por Pe. Osni Dos Anjos, Reitor do Santuário São Francisco de Assis
Quando falamos em felicidade bem sabemos que esse não um assunto fácil de ser tratado e, se acaso esse tema fosse tratado com simplicidade com certeza cairíamos em muitas falácias e erros gravíssimos. Muitos já escreveram sobre ela, inclusive os filósofos, como por exemplo Platão que colocou a felicidade num lugar tão elevado, o mundo das ideias, metafísico, que o ser humano, mesmo se esforçando nunca conseguirá atingir. O filósofo colocou a felicidade fora do mundo, num lugar onde moram as essências, foi lá, nesse lugar que ninguém conhece e de onde ninguém voltou para contar que está, segundo esse antigo pensador, a sonhada felicidade.
Um amigo dele, chamado Aristóteles, também arriscou falar em felicidade. Para ele a felicidade se encontrava em praticar virtudes próprias de sua época e de seu tempo. Desse modo, seria feliz quem conseguisse ser virtuoso, o tempo todo, ou seja, teria que ser uma pessoa perfeita, sem considerar suas falhas, erros, medos, angustias, sendo assim também impossível ser feliz, pois afinal, as imperfeições e sofrimentos desta vida ainda são condições inerentes à existência.
Dando um longo salto na história, vamos chegar em tempos um tanto mais próximos de nós e encontramos Freud. Esse pensador disse que a felicidade é impossível ao ser humano. Para ele, o ser humana nunca será feliz porque é reprimido em suas vontades, e como não consegue realizá-las, não consegue ser feliz. Paira aqui um pessimismo extremo, próprio do século XIX. Resultado, vontades reprimidas igual vida infeliz.
Então chegamos em tempos atuais e, não diferente desse passado que nos remete, também encontramos uma quantidade razoável de gente infeliz. E o que dizer desse tema em nosso tempo? Estamos diante de uma encruzilhada que, de modo algum, torna-se ela um dilema, mas tal bifurcação do caminho nos impele a pensar. E refletir sobre si mesmo, sobre mundo, sobre a vida, sobre as pessoas que nos cercam é um primeiro passo para começar a construir um projeto de vida que nos faça felizes.
Eis o caminho para o nosso tempo, marcado por tanto sofrimento, desigualdades, mentiras, corrupção, uma era fortemente vazia de sentido, para esse momento, o caminho para construção de uma vida diferenciada é a construção de um projeto de vida que, como todo projeto necessitará ser sempre reavaliado e reelaborado, porém, não temos como fugir dele.
Tal projeto parte do “eu”, ou seja, da resposta que dou a essa pergunta: “quem sou eu?” Não a pergunta: “o que eu faço?” Pois minha profissão, meus afazeres não sou eu. Mas, a partir de uma reflexão pessoal bem feita, assumir sua verdadeira identidade, sua essência, é por ela, a partir da base que sou eu, com meus defeitos e qualidades, com minha coragem e com meu medo, com minha alegria e com minha tristeza, com minha fé e com a minha dúvida, como eu verdadeiramente sou, como todos os contrários que há em mim que dou início ao meu projeto de vida.
Ai posso dar o segundo passo, isto é decidir, a partir do que eu sou, “para onde vou?”. Passo muito importante para se construir uma vida feliz. As pessoas não realizadas em sua vida vivem sem direção, não sabem onde querem chegar, têm dificuldade de impor para si metas que, após alcançadas precisam ser reorganizadas para que se transformem em novas metas, novos caminhos, novos direcionamentos. E, quando nosso objetivos não são alcançados, precisam ser avaliados e refeitos, pois afinal, como o ser humano não é uma máquina, nunca trabalha-se com resultados, mas sempre com objetivos. Quem não sabe para onde vai, não sabe onde quem quer chegar.
Para chegarmos ao terceiro passo, “com quem eu vou?”. Note que as pessoas infelizes se queixam muito de que a razão de sua infelicidade são as pessoas que a cercam. Escolher quem são aqueles que queremos ao nosso lado na caminhada é uma boa decisão para construção de uma vida feliz. Isso implica muitas vezes abandonarmos velhas rotinas de convivência que nada acrescentam à nossa vida. Não é a quantidade de amigos e pessoas à nossa volta que nos garante a felicidade, mas a qualidade das pessoas. O ditado popular é certo nesse caso, “tenha-se poucos amigos, mas que sejam bons amigos”. Esta aí a prova das redes sociais modernas, nas quais muitos se “empanturram” de amigos, mas não se saciam da verdadeira felicidade.
Desejo a você, que Espírito Santo te ilumine, te conceda sabedoria para que possas construir um projeto de vida autêntico, que te traga, não instantes passageiros e efêmeros de falsa felicidade, mas o ajude a construir uma vida inteiramente plena em todos os seus aspectos.