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Educação moral no seio familiar

Por Acedriana Vicente Vogel, diretora pedagógica da Editora Positivo

A relação social com as regras, princípios e valores, elementos constituintes da moral, tem se apresentado como alvo de grandes questionamentos. A escola pode e deve colaborar nessa empreitada, organizando ambientes onde o modo de vida democrático oportunize a cidadania. Porém, a família tem um importante papel nesse contexto. Turiel, psicólogo especialista em desenvolvimento, elencou três tipos de educação moral no seio familiar, que podem ajudar os pais na compreensão das consequências das suas posturas educativas.

O primeiro é chamado de “educação autoritária” e se assenta na imposição de regras legitimadas por frases como “faça isso porque eu sou seu pai”, reafirmando uma autoridade sábia e inconteste. Com o mesmo posicionamento, encontramos as sanções de ameaças, como: “se você não fizer isso, não vai poder usar o computador”. Essa é, sem dúvida, uma postura clássica da educação moral familiar fortemente contestada nos últimos anos.

O segundo tipo é denominado de “educação por ameaça de retirada de amor”, que se traduz em expressões que façam a criança entender que a sua desobediência entristece os pais: “quando você não faz as tarefas, eu fico muito chateada”.

O terceiro tipo seria a “educação elucidativa”, pois toda ordem ou repreensão é acompanhada da explicação, em geral baseada na consequência dos atos e na consideração do outro. “Se você mentir, ninguém mais vai acreditar em você”. O resultado do estudo aponta esse tipo de educação como o que mais colabora para o desenvolvimento da autonomia.

Os três tipos de educação trabalham os limites. Na forma autoritária, o custo da obediência divorciada da reflexão é muito alto, capaz de comprometer o desenvolvimento da autonomia, ancorando pessoas, às vezes, pela vida inteira, submissas e condicionadas a outrem.

A educação por retirada de amor possui o mesmo ingrediente da autoritária: o medo. A carga afetiva gerenciada com constantes possibilidades de retirada do amor é muito pesada para uma criança e, frequentemente, pode representar um desequilíbrio afetivo de grandes proporções, relacionado, inclusive, à depressão infantil.

A educação elucidativa apresenta-se como a que mais contribui para a promoção da autonomia moral, pois coloca limites e não silencia sobre o que é permitido e proibido. Seu diferencial é que trabalha a ideia de que a moral possui fundamentos racionais que podem trazer reflexão.

A associação entre limites e justificativas racionais prepara a conquista da autonomia. Dar-se ao trabalho de explicar a razão de ser das ordens significa respeito ao outro. Evidentemente, não se trata ainda de autêntica relação democrática entre iguais, uma vez que as posições entre pais e filho são assimétricas por natureza, mas prepara a criança para que ela alcance e valorize a igualdade, sem a qual a autonomia não faz sentido.

Educação, Família, Psicologia

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