Despertar da atenção: reaprendendo a escutar
Por Pe. Osni Dos Anjos, Reitor do Santuário São Francisco de Assis
Uma habilidade pouco desenvolvida em nós é saber escutar. Você sabe qual é a diferença entre ouvir e escutar? De imediato, temos a impressão de que se refere à mesma realidade, todavia, se aprofundarmos melhor, veremos que há muitas diferenças importantes e que, na maioria da vezes ouvimos, mas não escutamos.
O significado de ouvir remete ao sentido da audição, é aquilo que o ouvido capta. Já o verbo escutar corresponde ao ato de ouvir com atenção. Ou seja, escutar é entender o que está sendo captado pela audição, mas além disso, compreender e processar a informação internamente.
Quando apenas ouvimos estamos nos referindo apenas à realidade fisiológica e à capacidade do ouvido de captar sons. Escutar é mais, pois implica uma atitude de inclinação diante do outro, dando-lhe tempo para concluir suas frases. Note como na maioria das vezes, quando estamos em nossas conversas temos pressa de dar nossa opinião sem aguardar que o outro termine o que estava dizendo.
Para Christian Dunker, “Escutar o outro é renunciar a posição de poder”. Esse detalhe, mesmo sutil, acarreta estragos nos relacionamentos interpessoais em geral, indo do pessoal, privado, aos negócios e carreira.
Muitas das rupturas havidas em relacionamentos familiares, entre amigos, sócios, com o acirramento de posições mais extremadas, em ambiente de polarização, ou até diferenças que emergem desde lugares e posições políticas, religiosas, contrárias ao que pensamos, são consequência de nossa dificuldade de saber escutar. É grande, diria imensa nossa incapacidade de renunciar à nossa posição de poder.
Esse trecho de Rubem Alves nos faz pensar sobre o lugar em que nos posicionamos quando nos é solicitado os ouvidos para escutar: “O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: ‘Se eu fosse você’. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção”.
É muito linda a passagem bíblica quando Jesus cura o cego de Jericó no capítulo 10 do Evangelho segundo Marcos: Jesus, embora soubesse do que Bartimeu precisava, “ser curado e voltar a ouvir”, não se precipita e pergunta ao cego: “Que queres que eu faça por você?”. “Senhor que eu veja”, responde o cego. E assim se fez.
Em nossas relações já vamos de imediato dando respostas e definindo o que outro precisa, como se realmente soubéssemos o que é melhor ou pior para ele. Não sabemos, essa resposta precisa ser construída em atitude de escuta dialógica. Experimente e você irá descobrir muitas coisas lindas que há nas pessoas que te cercam.