Laboratório produz próteses gratuitas para pacientes
Todo paciente que passa por tratamento ou cirurgia oncológica sabe das dificuldades do processo, e da força de vontade necessária durante e após os procedimentos
Quando a operação envolve a região do rosto, a sensibilidade aumenta consideravelmente. Pensando em auxiliar na retomada da autoestima e superação dos traumas da luta contra o câncer, o Hospital Angelina Caron (HAC) inaugurou recentemente o laboratório de próteses bucomaxilofaciais, coordenado pela cirurgiã dentista Karin Barczyszyn, especialista em Oncologia e dentista da Clínica de Rádio e Quimioterapia (Clinirad).
“O laboratório possui equipamentos para criação de próteses faciais (nariz, orelha, pálpebra), próteses obturadoras de palato e velofaríngeas para pacientes que sofreram mutilações devido ao câncer. Elas ajudam a amenizar os traumas e melhorar a autoestima do paciente, pois não é fácil conviver normalmente em sociedade após essa mutilação. É um grande diferencial do Hospital Angelina Caron, com atendimento gratuito aos pacientes oncológicos do SUS operados por nossa equipe”, explica.
Especialista em oncologia multiprofissional pelo Hospital Albert Einstein, a cirurgiã dentista fez o curso de Odontologia para Oncológicos no Hospital Sírio Libanês e é habilitada em Laserterapia pelo Laboratório Especial de Laser em Odontologia (Lelo) da Universidade de São Paulo (USP). “A Odontologia vem contribuindo muito para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes oncológicos. Há dois anos, foi montado o consultório odontológico para auxiliar pacientes da radioterapia e quimioterapia fazendo tratamento de câncer na região da cabeça e pescoço, pois os mesmos desenvolvem uma série de problemas bucais durante e após o tratamento.”
O laboratório de prótese buco foi montado com recursos da Oncologia, por iniciativa do médico Luciano Saboia, chefe da especialidade da Clinirad do HAC “Nem todos os pacientes que operaram na nossa Oncologia sabem do laboratório, alguns já estão voltando para fazer suas próteses. Para nós, é extremamente gratificante saber que o paciente volta a sair de casa e ter uma vida em sociedade sem se sentir segregado ou chamar a atenção. Muito feliz também bem com a parceria da UTFPR, que une a engenharia com a medicina, trazendo benefício a pessoas realmente carentes”, conta.
Engenharia 3D
A parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) surgiu de uma história inspiradora. O professor José Aguiomar Foggiatto foi paciente da Oncologia do Hospital Angelina Caron e decidiu usar suas habilidades para ajudar os pacientes com sequelas graves para a doença. Ele mobilizou alunos do ensino técnico ao mestrado, da área de Engenharia Mecânica, para somar forças e produzir próteses bucomaxilofaciais.
“Ao saber que eu trabalhava com impressões 3D na UTFPR, o médico Luciano Saboia, que me operou, comentou sobre a necessidade de se fazer as próteses faciais de maneira mais fácil e rápida. Fui apresentado à doutora Karin e começamos o projeto junto a alunos de iniciação científica, desenvolvendo métodos para conseguir agilizar, imprimindo moldes entregues à cirurgiã, para que pudesse fazer mais peças a partir daquele molde. Desde então, já atendemos oito pacientes”, relata o professor.
A equipe da UTFPR desenvolveu um método de criação de próteses faciais usando digitalização e modelagem no computador, a partir do caso de cada paciente. “Começa com a geometria do paciente. O molde é feito após a validação da geometria do nariz, com silicone médico no laboratório. Também estamos utilizando um molde feito em resina, de forma que não haja reação ou interação com outros materiais”.
O HAC é o primeiro hospital do Sul do Brasil com um laboratório específico para essa finalidade, e processo automatizado. “São pouquíssimos hospitais no Brasil com essa iniciativa inovadora, envolvendo a tecnologia da engenharia aplicada ao atendimento de pacientes oncológicos atendidos pelo SUS. Uma iniciativa muito louvável”, celebra Foggiatto.
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